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5 ações após acidente com perfurocortantes

Os trabalhadores da saúde que atendem pacientes, direta ou indiretamente, em instituições e serviços de saúde, correm o risco de sofrer acidentes de trabalho ou adquirir doenças ocupacionais por manipulação de sangue e fluidos corporais e uso de materiais perfurocortantes. O acidente com perfurocortantes potencialmente contaminados é capaz de transmitir mais de 20 doenças, incluindo hepatite B, C e vírus da imunodeficiência humana (HIV). 

O risco de transmissão ocupacional após exposição a material biológico é variável e envolve diversos fatores, como: 

  • Tipo de acidente;
  • Tamanho da lesão;
  • Gravidade da lesão;
  • Presença de sangue envolvido;
  • Condições clínicas do paciente-fonte;
  • Uso correto da profilaxia pós-exposição. 

Ferimentos por materiais perfurocortantes são um risco bem conhecido no setor de saúde e assistência social. Devido a esse perigo, os ferimentos por materiais cortantes causam preocupação e estresse a todos os trabalhadores potencialmente expostos. 

Leitura recomendada: Como conhecer os riscos químicos: perigos físicos e à saúde humana

O que são materiais perfurocortantes?

Perfurocortante é um termo médico para dispositivos com pontas ou bordas afiadas que podem causar ferimentos ou transmitir doenças infecciosas. Em ambientes de assistência médica, perfurocortantes incluem instrumentos médicos como:

  • Agulhas – Agulhas ocas usadas para injetar drogas (medicamentos) sob a pele.
  • Seringas – Dispositivos usados ​​para injetar medicamentos ou retirar fluidos do corpo.
  • Lancetas, também chamadas de dispositivos de “punção digital” – Instrumentos com uma lâmina curta de dois gumes usados ​​para obter gotas de sangue para teste. 
  • Auto injetores, incluindo canetas de epinefrina e insulina – Seringas pré-cheias com medicamentos fluidos, projetadas para serem auto injetadas no corpo.
  • Conjuntos de infusão – Sistemas de tubos com uma agulha usada ​​para administrar medicamentos ao corpo.
  • Agulhas/conjuntos de conexão – Agulhas que se conectam a um tubo usado para transferir fluidos para dentro e para fora do corpo. 

Principais causas do acidente com perfurocortantes

O acidente com perfurocortantes geralmente ocorre devido a vários fatores comuns. Entender essas causas pode ajudar na implementação de medidas preventivas para criar um local de trabalho mais seguro. 

Aqui estão algumas das principais razões de acidentes relacionados a materiais cortantes:

1. Treinamento e conscientização inadequados 

Falta de treinamento abrangente sobre o manuseio adequado de objetos cortantes, descarte e protocolos gerais de segurança. Compreensão insuficiente dos riscos associados a objetos cortantes e como gerenciá-los com segurança.

2. Descarte inadequado de objetos cortantes 

Não descartar agulhas, bisturis e outras ferramentas cortantes imediatamente após o uso. Recipientes de descarte de objetos cortantes cheios demais ou mal posicionados, levando a perfurações acidentais.

3. Sobrecarga de trabalho e fadiga 

Alta carga de trabalho, turnos longos e falta de pessoal podem levar à fadiga, aumentando a probabilidade de acidentes. Estresse e pressão de tempo também podem contribuir para lapsos de concentração e manuseio incorreto de instrumentos cortantes.

Leia também: Síndrome de Burnout x segurança e saúde no trabalho: como cuidar dos colaboradores

4. Manuseio inadequado de objetos cortantes 

Reencapar agulhas manualmente ou realizar outras práticas de manuseio inseguras. Passar objetos cortantes entre membros da equipe sem técnicas seguras ou conscientização.

5. Falta de dispositivos de segurança 

Não usar dispositivos de engenharia de segurança, como agulhas retráteis, bisturis com bainha ou sistemas sem agulha. Disponibilidade limitada de objetos cortantes com recursos de segurança, principalmente em ambientes com recursos limitados.

6. Ambientes de trabalho lotados 

Espaço de trabalho limitado e superlotação em ambientes de assistência médica aumentam o risco de contato acidental com objetos cortantes. Situações de emergência e ambientes de alta pressão, como centros cirúrgicos e de trauma, também apresentam riscos maiores.

7. Equipamento de proteção individual (EPI) inadequado 

Não usar EPI apropriado, como luvas, pode aumentar a vulnerabilidade a ferimentos. Às vezes, o EPI não é suficiente ou projetado para prevenir ferimentos cortantes diretamente. Então, a equipe pode confiar apenas em técnicas de manuseio adequadas.

8. Ergonomia e design inadequados 

Instrumentos e layouts de local de trabalho não projetados com a ergonomia em mente podem aumentar a probabilidade de acidentes. Iluminação ruim, espaços desorganizados ou recipientes inconvenientes para objetos cortantes podem contribuir para o manuseio incorreto.

9. Movimentos inesperados do paciente 

Os pacientes podem se mover inesperadamente durante um procedimento, fazendo com que os profissionais de saúde se piquem ou se cortem acidentalmente. Esse risco é especialmente alto com pacientes ansiosos ou fisicamente agitados.

Reduzir acidente com perfurocortantes requer uma abordagem multifacetada, incluindo melhor treinamento, uso de dispositivos mais seguros, protocolos de descarte adequados e políticas de apoio para lidar com a fadiga e a carga de trabalho em ambientes de saúde.

Legislação brasileira

No Brasil, a Norma Regulamentadora 32 é a principal norma regulatória que aborda procedimentos de segurança e saúde para trabalhadores que manuseiam materiais perfurocortantes, especialmente em ambientes de assistência médica. 

Como principais aspectos, podemos citar o descarte de objetos perfurocortantes, que devem ser despejados em recipientes resistentes a perfurações. Esses recipientes devem ser claramente etiquetados, colocados estrategicamente e atender aos padrões para garantir manuseio e descarte seguros.

A norma exige também que os empregadores forneçam equipamentos de proteção individual (EPI) adequados, como luvas, óculos de proteção e roupas de proteção, para reduzir o risco de ferimentos por objetos perfurocortantes.

A NR-32 enfatiza a necessidade de treinamento regular sobre manuseio e descarte seguros de materiais perfurocortantes, como técnicas seguras, procedimentos de resposta a emergências e conscientização sobre os riscos de exposição a patógenos transmitidos pelo sangue.

Procedimentos para Pós-Exposição também estão contemplados, em caso de acidente com perfurocortantes, exigindo a notificação imediata, avaliação médica e documentação adequada. Isso inclui garantir que os trabalhadores feridos tenham acesso à profilaxia pós-exposição quando necessário, principalmente para aqueles expostos a agentes biológicos.

O empregador deve elaborar e implementar o Plano de Prevenção de Riscos de Acidentes com Materiais Perfurocortantes, conforme as diretrizes estabelecidas.

A norma exige protocolos organizacionais, como minimizar o uso desnecessário de objetos cortantes e controles de engenharia para reduzir o risco de exposição acidental.

O que fazer após um acidente com perfurocortante?

Embora a profilaxia pós-exposição (PEP) seja o primeiro pensamento em caso de acidentes com material biológico, é necessário seguir um fluxo de ação. Veja:

Passo 1 

Cuidado imediato com a área exposta. Realizar lavagem exaustiva com água e sabão ou soluções antissépticas. O álcool também pode ser utilizado por ter ação virucida. Remover corpos estranhos e tecidos desvitalizados, se aplicável. Em ferimentos graves, realizar desbridamento e lavagem com água oxigenada. Não utilizar soluções ou procedimentos que aumentem a área exposta (como injeções locais, hipoclorito, éter).

Passo 2 

Deve-se avaliar qual o risco de transmissão de HBV, HCV, HIV e sífilis. Isso depende de vários fatores.

Passo 3 

Avaliar o status sorológico da pessoa-fonte. O paciente-fonte deve ser avaliado quanto à infecção por HIV, HBV ou HCV imediatamente após a ocorrência do acidente. Caso a fonte seja desconhecida, levar em conta as probabilidades clínica e epidemiológica de infecção por HIV, HBV e HCV, analisando a prevalência de infecção naquela população, o local onde o material perfurocortante foi encontrado, o procedimento ao qual ele esteve associado, a presença ou não de sangue, entre outros pontos que sejam pertinentes.

Passo 4 

Verificar o status sorológico do trabalhador acidentado. Verificar a situação vacinal do trabalhador acidentado para hepatite B e a comprovação de imunidade por meio de anticorpos contra o antígeno de superfície do HBV (anti-HBs). Coletar sorologia para HIV, HBV e HCV.

Passo 5 

O passo seguinte será analisar a necessidade da profilaxia pós-exposição (PEP). Devemos sempre considerar a gravidade da lesão e o tempo de exposição.

A PEP, quando indicada, deve ser iniciada o mais rápido possível, dentro das duas primeiras horas e, no máximo, até 72 horas após o acidente. É mais efetiva quando começa mais precocemente. A duração da quimioprofilaxia é de 28 dias. O profissional deve ser acompanhado pela equipe de saúde, inclusive após esse período, realizando os exames necessários.

Um efetivo programa de prevenção de acidentes possui diversos componentes que devem atuar em conjunto para prevenir que os trabalhadores da saúde sofram acidentes de trabalho com agulhas e outros materiais perfurocortantes. Esse plano de prevenção deve se integrar aos programas já existentes, como os de segurança e saúde ocupacionais, de controle de infecção, gestão da qualidade, entre outros. 

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