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Após quase 50 anos da Guerra do Vietnã, agente laranja faz vítimas e causa danos ao meio ambiente

Já faz 50 anos que a Guerra do Vietnã (1960 a 1975) terminou. Entretanto, quando avaliamos os danos provocados, observa-se que a guerra contra a natureza persiste. De fato, os milhares de litros de herbicidas, lançados nas florestas vietnamitas, causaram sérios impactos. Dentre eles, está o conhecido agente laranja.

Após uma revisão em diversos estudos, especialistas verificaram que ainda existem resíduos altamente tóxicos do agente laranja no ecossistema da região. E o grande problema é que este herbicida penetra na cadeia alimentar.

Uso do agente laranja na Guerra do Vietnã

Segundo descrito pelo jornal El País, “vários relatórios das Academias Nacionais de Ciência dos Estados Unidos e agências governamentais, como a Usaid (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), calculam que foram usados mais de 80 bilhões de litros de herbicidas na Guerra do Vietnã. O mais utilizado foi o agente laranja, um desfolhante.” 

Ao longo da guerra, os Estados Unidos empregaram amplamente esse desfolhante químico, como vimos nos dados acima. O composto era chamado de agente laranja devido à faixa laranja em volta dos recipientes que continham a substância. 

Por ser altamente tóxico ao ambiente, o agente provocou a devastação das florestas vietnamitas. No total, aproximadamente 17,8% (3,1 milhões de hectares) da área florestal total foi atingida durante a guerra. Isso acarreta diversos efeitos danosos ao meio ambiente e à saúde humana até hoje.

Como funciona o agente laranja?

O agente laranja é formado à base de 2,4D (n-butil 2,4-diclorofenoxiacetato) e 2,4,5-T (n-butil triclorofenoxiacetato). Porém, durante o processo de produção, ocorreu a contaminação com o composto 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina (dioxina).

Os compostos 2,4D e o 2,4,5-T são potentes herbicidas. Logo, o uso destas substâncias causou um extenso desmatamento e trouxe grande desequilíbrio ecológico, afetando a fauna e a flora da região. 

A dioxina, por sua vez, é um composto persistente no meio ambiente e permanece por anos no solo e em sedimentos. Já são mais de 40 anos que a substância está presente no local mesmo após o final da guerra. 

Inclusive, diversas regiões do Vietnã ainda estão contaminadas com elevados níveis de dioxina. Por exemplo: Da Nang (figura 1), localizada na área central, e Phu Cat e Bien Hoa, ao sul do país. Estes lugares serviram de base americana durante a guerra.

Leitura recomendada: Livro – Armas Químicas: O mau uso da toxicologia

Figura 1. Região de Da Nang – placa identifica que o local, próximo da antiga base aérea americana, está contaminado com dioxina.

Os impactos do agente laranja no Vietnã

Além da persistência no meio, a dioxina, presente no agente laranja, causa mais impactos negativos, como:

  1. Interferir na cadeia alimentar: principalmente, porque os animais se alimentam da vegetação contaminada.
  2. Trazer efeitos tóxicos ao ser humano:
  • Teratogênese;
  • Carcinogênese;
  • Comprometimento neurológico;
  • Distúrbios hormonais em ambos os sexos;
  • Alteração no sistema imunológico;
  • Danos à pele, como o desenvolvimento de cloracne.

De acordo com notícia publicada pelo El País, “um dos relatórios mais recentes analisados por Olson e Lois Wright Morton, da Universidade do Estado de Iowa, os pesquisadores oficiais estudaram o solo da base aérea de Bien Hoa e seus arredores.” 

“Esta era uma das principais bases de onde partiam as missões de lançamento de herbicidas. Nela, estão acumuladas as latas que sobraram quando foi suspenso o projeto Ranch Hand (operação de lançamento dos compostos). Os pesquisadores coletaram 1.300 amostras de solo de 76 pontos diferentes da base, terras próximas e lagos. Dessas, 550 tinham níveis de dioxina acima do regulamento do Ministério de Defesa Nacional do Vietnã para uso da terra, comenta o professor americano.”

Estragos do passado no presente e no futuro

A guerra ocorreu faz quase 50 anos, mas o agente laranja continua fazendo vítimas. A população vietnamita ainda sofre com elevada incidência de casos de leucemias, tumores cerebrais, câncer no fígado e graves doenças de pele. 

Além disso, diversas crianças vietnamitas ainda nascem com problemas congênitos, principalmente, na região de Da Nang. Segundo dados da Cruz Vermelha, mais de 150 mil casos de malformação congênita estão associados ao agente laranja. Trata-se da maior incidência no mundo em casos de problemas congênitos.

Situações como a ocorrida no Vietnã demonstram que o emprego de armas químicas provoca efeitos agudos e efeitos crônicos à saúde humana e ao ambiente. Por isso, é condenável o uso de tais compostos. 

Mas este incidente não deve ser esquecido e sim relembrado para evitar que volte a acontecer no futuro. Inclusive, serve para alertar empresas e corporações que utilizam agentes químicos em suas atividades. É fundamental entender os riscos toxicológicos, seu impacto na saúde humana e saber como atender vítimas em caso de intoxicação.

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