A inalação é a principal via de exposição a agentes químicos e, quando falamos de agentes químicos, temos um baita desafio pela frente, quando se refere a proteção de trabalhadores em seus locais de trabalho. Neste caso, a proteção respiratória é essencial.
E por que digo isso? Porque a quantidade de produtos químicos que são desenvolvidos a cada dia é muito grande. Se considerarmos a diversidade encontrada, o primeiro passo a ser realizado para garantir a proteção dos colaboradores é a classificação e a avaliação de agentes químicos.
Por exemplo, um produto é gás, vapor, poeira ou um aerodispersóide? Saber essas diferenças e situar os agentes químicos nas classificações corretas é muito importante. Assim, é possível evitar equívocos em relação aos procedimentos de higiene ocupacional e principalmente quando é necessário selecionar a proteção respiratória adequada aos riscos existentes.
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Índice
ToggleClassificação Física dos Agentes Químicos
A classificação de agentes químicos que mais estão presentes na higiene ocupacional é baseada em seu estado físico. O primeiro grupo é o de materiais particulados, denominados também de aerodispersóides e que são os de maior densidade. Aerodispersóide nada mais é do que uma dispersão de partículas sólidas ou de partículas líquidas no ar.
Particulado sólido: Poeiras, Fumos e Fibras
As poeiras são partículas sólidas formadas pela ruptura mecânica de um sólido por meio de processos de moagem, atrito, impacto etc.
Como as poeiras podem ser
- Minerais, que são aquelas geradas em ações de perfurações, britagem de pedras, extração mineral, explosões, que geram a poeira sílica. Esta é bastante nociva à saúde, podendo provocar até câncer.
- Alcalinas, originadas principalmente do calcário, que é responsável por doenças pulmonares crônicas, como enfisema pulmonar.
- Vegetais, originadas de atividades exercidas no campo como nas culturas de algodão, cana de açúcar ou também em atividades de tecelagem. A doença ocupacional mais comum, neste caso, é a bissinose.
- Poeiras metálicas são as originadas de atividades que envolvem metais, como lixamento de peças, por exemplo. Essas partículas causam doenças do sistema respiratório e, também, febre e calafrios.
E quanto aos fumos?
Os fumos são caracterizados como substâncias na forma de particulado fino em suspensão (pó) decorrente do processo de solda. Estas partículas são formadas a partir de vapores e gases que se desprendem durante a fusão. Estes, em contato com o oxigênio do ar, após resfriamento e condensação, oxidam-se, formando os fumos.
As operações mais comuns em que há a presença de fumos são as de soldagem e fundição.
Os fumos podem causar irritação nos olhos, nariz e peito, diversos tipos de câncer, como o de pulmões, intestinos e fígado, reações alérgicas, asma, bronquite e pneumonia, entre outros.
Entre os particulados sólidos, também podemos destacar as fibras, que podem ser definidas como longos e finos filamentos de um material. Como exemplo temos o amianto.
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Aerodispersóide do tipo névoas e neblinas
A névoa é composta por partículas no estado líquido, que são produzidas por substâncias líquidas que sofreram ruptura, se tornando pequenas partículas que acabam por se dispersar no ar.
Um exemplo de névoa é o spray, como o de desodorante por exemplo. Aquilo não é um gás ou vapor. Na verdade, é o líquido desodorante presente em pequenas partículas no ar.
Uma névoa que pode ser extremamente prejudicial à saúde do trabalho é a névoa ocasionada quando o trabalhador está aplicando agroquímicos em uma plantação. Outra situação envolve os solventes usados em tintas em spray, que contêm chumbo e são um elemento muito perigoso e de alto risco para a saúde do trabalhador.
Já a neblina é a suspensão de partículas líquidas formadas pela condensação do vapor de uma substância que é líquida na temperatura normal. Assim como a névoa, a neblina também é composta por partículas no estado físico líquido.
Porém, essas partículas não se originaram da ruptura do líquido, mas sim da condensação de vapores das substâncias que estavam no estado líquido nas condições normais de temperatura e pressão.
É muito comum a confusão de névoa e neblina com vapor. Mesmo que o vapor acompanhe a névoa, são distintos. Isso será fundamental quando da seleção de filtros para os respiradores.
Gases e Vapores
Além dos aerodispersóides (particulado sólido ou líquido), podemos ter também contaminantes na fase gasosa. Se esse contaminante, em condições normais de temperatura e pressão, já estiver no estado gasoso, ele é considerado um gás. Contudo, se o contaminante é um líquido em condições normais, sua fase gasosa será chamada de vapor.
De acordo com suas propriedades químicas, os gases e vapores podem ser classificados, resumidamente, como orgânicos, ácidos, alcalinos e inertes.
Entender a classificação dos agentes químicos é fundamental para todo o direcionamento das ações de higiene ocupacional. Então, é possível evitar erros básicos e escolher corretamente os aparelhos de proteção respiratória adequados à realidade dos riscos existentes no ambiente de trabalho.
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Riscos Respiratórios: o que deve ser considerado?
Os riscos que requerem proteção respiratória podem ser assim divididos:
Deficiência de Oxigênio | 1. Concentração de Oxigênio;
2. Altitude reduzindo a pressão parcial do Oxigênio. |
Agentes Químicos | 1. Presente na forma de Moléculas – Gases / Vapores.
2. Presentes na forma de Partículas – Poeiras / Névoas / Fumos. |
Agentes Biológicos | 1. Ancorados em Partículas – Fungos / Bactérias / Outros. |
Por isso, a avaliação dos riscos respiratórios é essencial para o processo de seleção e uso do respirador adequado e deve ser realizada por profissional habilitado.
A avaliação completa dos riscos inclui 3 etapas:
- Avaliação dos perigos no ambiente;
- Da adequação do respirador à exposição;
- E da adequação do respirador à tarefa, ao usuário e ao meio ambiente de trabalho.
A análise de todos esses parâmetros deve ser realizada antes do início das tarefas, sejam elas de rotina ou de emergência, e deve ser repetida quando houver alterações nas condições de trabalho.
Como funciona cada uma dessas etapas?
Avaliação dos perigos no ambiente de trabalho
1- Avaliar se existe risco potencial de deficiência de oxigênio. Quando esse risco estiver presente, deve ser determinado o nível de oxigênio mais baixo que poderá ocorrer em trabalhos de rotina ou em emergências.
2- Identificar todos os contaminantes que possam estar presentes no ambiente de trabalho e seu estado físico (particulado, gás, vapor). Devem ser conhecidas todas as substâncias produzidas ou armazenadas, incluindo matérias-primas, impurezas relevantes, produtos finais, subproduto e resíduos, por meio da análise detalhada do processo produtivo.
Devem ser incluídas também as informações relativas às propriedades perigosas e a toxicidade dessas substâncias, que podem ser obtidas por meio das respectivas Fichas de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ). No caso de um contaminante não puder ser identificado e não existirem orientações claras, o perigo deve ser considerado desconhecido e a atmosfera deve ser considerada IPVS (Imediatamente Perigoso à Vida ou à Saúde).
Outra informação muito importante é em relação à pressão de vapor de cada contaminante, que indica a maior ou menor quantidade de vapor gerado por um líquido ou um sólido, se esta é significante na máxima temperatura prevista no ambiente de trabalho.
3- No caso de contaminantes particulados, verificar a presença de óleo. Se a presença de aerossol oleoso for desconhecida, deverá ser assumida como existente. Alguns exemplos de atividades que são conhecidas por produzirem aerossol oleoso incluem o uso de compressor de ar lubrificantes oleosos e a operação de veículos com motor de combustão interna.
4- Conhecer o limite de tolerância ou qualquer outro limite de exposição, ou estimar a toxidez dos contaminantes.Verificar a existência de concentração IPVS;
5- Verificar a existência de regulamentos ou legislação específica para os contaminantes. Em caso afirmativo, a seleção da proteção respiratória dependerá desses regulamentos.
6- Medir ou estimar a concentração na condição mais crítica de exposição ocupacional, prevista nas operações de rotina, emergência, resgate ou escape, obedecendo sempre as boas práticas de higiene ocupacional.
7- Determinar a possibilidade de ocorrência de condições IPVS.
8- Verificar se os contaminantes presentes podem ser absorvidos pela pele, se produzem sensibilidade da pele ou respiratória, se são irritantes ou corrosivos para os olhos e pele, se são carcinogênicos, se são radioativos etc.
9- Verificar se são conhecidos os limiares de odor, de paladar ou para a indução de irritação da pele para os gases e vapores dos contaminantes.
Avaliação da adequação do respirador à exposição
A proteção respiratória adequada à exposição a agentes químicos é aquela que reduz a exposição do usuário a valores abaixo dos valores considerados aceitáveis, como por exemplo, o Limite de Exposição Ocupacional (LEO).
Para a seleção do respirador com nível de proteção adequado à exposição, é necessário conhecer o Fator de Proteção Mínimo Requerido (FPMR) para o respirador. Este fator é obtido da seguinte forma:
- Calcular quantas vezes a concentração mais crítica prevista nas operações de rotina ou de emergência é maior do que o limite de exposição ocupacional aplicável;
- A outra forma é obedecendo a regulamentos ou legislação específica.
Uma vez obtendo-se o FPMR, a seleção é feita escolhendo-se uma proteção respiratória que possua Fator de Proteção Atribuído maior do que este valor. Para trabalhos em atmosferas deficientes de oxigênio, somente podem ser selecionados respiradores de adução de ar.
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Avaliação da adequação do respirador à tarefa, ao usuário e ao ambiente
1- Adequação à tarefa.
Devem ser considerados os seguintes parâmetros:
Frequência e duração da tarefa:
O tempo deve ser a primeira preocupação a ser levada em consideração, quando da escolha de um respirador. Esse fator é muito importante, pois, para alguns tipos de respiradores, o tempo máximo de uso e a frequência de uso podem ser limitados de acordo com o conforto do usuário e a respectiva carga de trabalho.
Cada tipo de proteção respiratória tem características que o tornam apropriado ou não para uso rotineiro, não rotineiro, emergências ou resgate. Devem também ser incluídas considerações sobre vida útil dos filtros, carga e vida útil de baterias e capacidade do reservatório de ar/gás respirável.
Nível de esforço físico:
Este item influencia diretamente na autonomia das máscaras autônomas e também na vida útil dos filtros químicos e para particulados.
Isso ocorre porque o aumento da frequência respiratória esgota o ar dos cilindros antes do tempo de serviço nominal, e os filtros químicos atingem a sua saturação tanto mais rápido quanto maior for o volume de ar inspirado.
Empregos de ferramentas:
A utilização de ferramentas durante a execução de uma tarefa pode influenciar no desempenho de uma proteção respiratória. Por isso, elas devem ser analisadas no processo de seleção do aparelho.
Por exemplos, nos processos de soldagem ou em certos processos de fundição, os respiradores purificadores de ar motorizados podem estar sujeitos a campos elétricos ou magnéticos extremamente fortes. O que pode causar problemas em seu funcionamento.
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Mobilidade:
Aqui deve ser avaliada a mobilidade necessária para a execução de determinada tarefa e o quanto o respirador selecionado irá dificultar os movimentos. Neste caso, podemos citar o comprimento das mangueiras de ar comprimido que limita o deslocamento do usuário no local de trabalho.
Ou ainda, o uso da máscara autônoma deverá ser avaliado se a distância entre o local contaminado e a área segura mais próxima com atmosfera respirável é compatível com a quantidade de ar/gás respirável existente no cilindro.
Necessidade de comunicação:
Em um ambiente ruidoso, a comunicação quando se está utilizando uma proteção respiratória pode ficar muito prejudicada. Tentar falar em voz alta pode deslocar a peça facial de um respirador com vedação facial e prejudicar a sua vedação no rosto.
O mais comum é o usuário tentar retirar temporariamente a peça facial do rosto enquanto fala e as duas situações citadas comprometem a proteção.
Existem alguns dispositivos que podem ser considerados, tais como diafragma de voz, microfone interno, telefone de mão etc. A adoção desses dispositivos deve ser avaliada frente à existência de atmosferas explosivas e emissão de radiofrequência.
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2- Adequação ao usuário
É inegável que o uso de todo respirador gera um certo grau de desconforto que acabará por influenciar na aceitação do usuário. Deve ser informado ao usuário o porquê da necessidade do uso de determinado respirador e a importância da correta colocação para sua proteção.
Nesse sentido, alguns parâmetros devem ser analisados para vedação da proteção respiratória. Tais como análise das características faciais, pelos faciais, uso simultâneo de outros EPIs, necessidades adicionais de visão (óculos com lentes corretivas ou lentes de contato), entre outros.
3- Adequação ao ambiente
A avaliação da adequação do respirador ao ambiente de trabalho deve considerar os seguintes fatores:
- Utilização em condições climáticas extremas: condições de temperatura e umidade, aumento ou diminuição da pressão do ambiente e velocidade do vento no local onde o respirador será utilizado;
- Existência de perigos não respiratórios: presença de fagulhas, abrasão, compatibilidade eletromagnética, enriquecimento de oxigênio etc.
Como podemos perceber, a seleção de um respirador envolve a avaliação de vários aspectos e não é uma tarefa fácil a começar pela identificação de todos os contaminantes existentes. O que exige o conhecimento de todos os produtos e matérias primas presentes na empresa.
O segundo desafio é identificar todos os perigos de cada contaminante, bem como as propriedades físico químicas, existência de limites de exposição ocupacional, dentre outras informações imprescindíveis. Não podemos esquecer o Programa de Proteção Respiratória que é obrigatório seu entendimento. Essas diretrizes podem ser encontradas no site da Fundacentro.
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