Os praguicidas ocupam uma posição de destaque entre os muitos produtos químicos que encontramos ou utilizamos diariamente. Isso porque são deliberadamente adicionados ao ambiente com o objetivo de matar ou ferir várias pragas. Porém, também há o risco dos praguicidas para as pessoas.
Afinal, diversos praguicidas não são altamente seletivos e são frequentemente tóxicos para muitas espécies não-alvo, como os seres humanos. Portanto, no uso de praguicidas, é importante minimizar a possibilidade de exposição de organismos não-alvo a estes produtos químicos.
O que são praguicidas?
Risco dos praguicidas para o público-alvo
Conheça as características do Glifosato
Como o Glifosato atua na prática?
Nível de toxicidade e risco dos praguicidas
Quais tipos de intoxicação por Glifosato?
Quais os sinais e sintomas da exposição aguda ao glifosato?
Quais os possíveis efeitos crônicos do glifosato?
Qual o tratamento para intoxicação por Glifosato?
Como desenvolver ações de prevenção?
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Índice
ToggleO que são praguicidas?
Antes de mais nada, é fundamental entender a definição e o conceito de praguicidas. Estes compostos podem ser definidos como qualquer substância ou mistura de substâncias destinada a prevenir, destruir, repelir ou mitigar pragas.
E o que são essas pragas? Elas podem ser consideradas: insetos, roedores, ervas daninhas e uma série de outras espécies indesejadas.
Existem diversos praguicidas, sendo que a classificação mais comum desses agentes se baseia nas espécies-alvo em que atuam. As quatro principais classes (e suas pragas-alvo) são:
- Inseticidas (insetos);
- Herbicidas (ervas daninhas).
- Fungicidas (fungos)
- Rodenticidas (roedores).
Ainda existem os acaricidas (ácaros), moluscicidas (caracóis, outros moluscos), miticidas (ácaros), larvicidas (larvas) e pediculicidas (piolhos).
Além disso, dentro de cada classe, existem várias subclasses, com substâncias químicas e toxicológicas com diferentes características. Por exemplo, entre os inseticidas, pode-se encontrar os compostos a base de organofosforados, carbamatos, organoclorados, piretróides, neonicotinóides e muitos outros produtos químicos.
Risco dos praguicidas para o público-alvo
Neste cenário, o conhecimento detalhado das características toxicológicas de cada produto químico é fundamental. Só assim é possível avaliar adequadamente o potencial risco dos praguicidas para espécies não-alvo.
No texto de hoje, vamos falar de um dos herbicidas mais empregados no mundo: o Glifosato. Este composto foi comercializado pela primeira vez em meados da década de 1970 e é amplamente utilizado nos Estados Unidos e em todo o planeta.
Além disso, o desenvolvimento de culturas transgênicas, que podem ser resistentes ao tratamento de praguicidas, expandiu o uso do Glifosato.
Conheça as características do Glifosato
O Glifosato tem como alvo uma ampla gama de ervas daninhas e é importante na produção de frutas resistentes, legumes, nozes e culturas de campo resistentes, como milho e soja. É eficaz no gerenciamento de ervas daninhas invasivas e nocivas.
Outro aspecto relevante é que o Glifosato se decompõe no ambiente e pode ser usado para plantio direto e plantio indireto. O que pode reduzir a erosão do solo e é útil para o gerenciamento integrado de pragas.
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Propriedades físicas e químicas do Glifosato
Para entender melhor as características e risco dos praguicidas, vale a pena analisar a estrutura do Glifosato. Confira a seguir!
Número CAS: 1071-83-6
Estrutura química:
Fórmula molecular: C3-H8-N-O5-P
Peso molecular: 169,07
Cor e forma física: Cristais brancos, sólido branco
Odor: Inodoro
Ponto de fusão: 230°C
Densidade: 1,705 a 20°C
Coeficiente de partição octanol/água: log Kow – 3,40
Solubilidade: em água 10,5 g/L; em pH 1,9 a 20°C. Praticamente insolúvel em solventes comuns, como acetona, etanol e xileno por exemplo.
Pressão de vapor: 9,8×10-8 mmHg /1,3×10-2 mPa/ a 25°C
Produtos perigosos da decomposição: emite fumos tóxicos de óxidos de nitrogênio e fósforo.
Como o Glifosato atua na prática?
Para exercer sua ação de herbicida, o Glifosato inibe a enzima 5-enolpiruvilshiquimato-3-fosfato sintase. Esta é responsável pela síntese de um intermediário na biossíntese de vários aminoácidos ácidos.
Embora importante no crescimento das plantas, essa via metabólica não está presente em mamíferos. O que proporciona alta seletividade para este composto.
Os produtos que contêm glifosato são vendidos em várias formulações, incluindo concentrado líquido, sólido e líquido pronto para uso.
Quais os ambientes de utilização?
O Glifosato é usado para controlar ervas daninhas em ambientes agrícolas e não agrícolas. Assim, pode ser aplicado em ambientes agrícolas, residenciais e comerciais. Existe uma série de métodos de aplicação, englobando:
- Sprays aéreos;
- Pulverizadores de transmissão terrestre de vários tipos;
- Pulverizadores blindados e com capuz;
- Aplicadores de limpador;
- Barras de esponja;
- Sistemas de injeção;
- Aplicadores de gotas controlados.
Os usos agrícolas incluem aplicações nas culturas de:
- Milho, algodão, canola, soja, beterraba sacarina, alfafa, frutas, folhas, leguminosas, cucurbitáceas, tubérculos, grãos de cereais, culturas cítricas, ervas e especiarias, pomares, frutas tropicais e subtropicais, frutas de caroço, pomóideas, nozes, lavouras de videira, oleaginosas e cana-de-açúcar, outras.
Já os usos não agrícolas envolvem:
- Áreas de conservação, pastagens, pastagens naturais, áreas aquáticas, florestas, gramados, áreas residenciais, culturas de árvores não alimentares (por exemplo, pinheiro, árvores de natal), direitos de passagem, áreas comerciais, áreas pavimentadas, tratamentos especiais, ornamentais, parques e áreas com vida selvagem.
Nível de toxicidade e risco dos praguicidas
O perfil de toxicidade da classe técnica do Glifosato é: LD50 oral e dérmica em roedores acima de 5.000 mg/kg. No entanto, devido ao seu amplo uso, incluindo o mercado doméstico e de jardins, exposições acidentais ou intencionais ao Glifosato são inevitáveis.
Ou seja, há risco dos praguicidas para os seres humanos. O Glifosato após ser absorvido é distribuído pelo nosso corpo e pode ser encontrado nos intestinos, ossos, cólon e rins. O composto pode ser eliminado em grande parte pelas fezes e também pela urina.
Durante o período de 2001 a 2003, havia mais de 13.000 relatórios para a Associação Americana do Sistema de Vigilância referentes à exposição ao glifosato. Nestes documentos, foi evidenciado que 18 pacientes apresentaram efeitos adversos graves e 5 morreram.
Existem vários casos de ingestão de glifosato já publicados e estima-se uma taxa de mortalidade de 10% a 15%. Mas, dada à baixa toxicidade aguda do próprio Glifosato, a atenção se concentrou em sua formulação, que contém surfactantes para auxiliar sua penetração.
O produto de Glifosato mais utilizado é o Roundup®, que é formulado como um concentrado contendo água, 41% de Glifosato (como sal de isopropilamina) e 15% de polioxietileneamina (POEA).
Os estudos conduzidos em animais sugerem que a toxicidade aguda deste Glifosato formulado se deve ao surfactante POEA. Inclusive, foi recentemente sugerido que o POEA pode aumentar a permeabilidade celular ao Glifosato. Como consequência, pode-se ocorrer a intoxicação.
Quais tipos de intoxicação por Glifosato?
A exposição alimentar estimada da população em geral é considerada como muito baixa, sendo de apenas 1% a 3% da dose de referência. Mesmo assim, é importante conhecer os riscos dos praguicidas e a possibilidade de intoxicação.
A intoxicação leve, por exemplo, resulta principalmente em sintomas gastrointestinais transitórios. Enquanto isso, o moderado ou grave envenenamento se apresenta com sangramento gastrointestinal, hipotensão, disfunção pulmonar e dano renal.
Os estudos de toxicidade crônica com Glifosato mostram ainda diminuição no ganho de peso, dano hepático e renal em altas doses.
Por outro lado, os estudos de genotoxicidade e carcinogenicidade em animais foram negativos. Assim, o Glifosato foi classificado como grupo E composto (evidência de não carcinogenicidade em humanos) pela Environmental Protection Agency – EPA.
No entanto, em 2017, a IARC (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer) publicou uma reavaliação. Foi concluído que, com base em evidências limitadas em humanos, evidência suficiente em animais e forte evidência de genotoxicidade e estresse oxidativo, o Glifosato é um “provável carcinogênico” (Grupo 2A).
Em contrapartida, a European Food Safety Authority – EFSA inferiu que é improvável que o Glifosato represente potencial risco de desenvolvimento de câncer para humanos. Assim, as evidências não apoiam a classificação em relação ao seu potencial carcinogênico.
Quais os sinais e sintomas da exposição aguda ao glifosato?
Apesar da exposição baixa da população em geral, os trabalhadores que utilizam Glifosato no cotidiano podem sofrer exposições maiores e correrem riscos. Por isso, é fundamental ficar de olho nos sintomas que podem indicar intoxicação.
Os sinais gerais incluem a diminuição da temperatura, hipertermia e hipotensão. Os sintomas gastrointestinais predominam, incluindo dor na boca e na garganta, náusea, vômitos, hiperemia da mucosa, odinofagia, salivação em excesso, diarreia e desconforto abdominal. Além disso, geralmente, tais sintomas são auto limitantes.
O composto também é irritante para a pele e para as mucosas. Enquanto a exposição ocular pode provocar conjuntivite e edema periorbitário e a inalação pode causar irritação do trato respiratório, com dor e sensibilidade na garganta. Já o contato com a pele pode ocasionar piloereção, eritema e dermatite de contato.
Os sinais e sintomas graves podem ser observados em casos de exposição oral intencional. Tais como:
- Problema cardiovascular;
- Sistemas respiratório e renal podem ser afetados, incluindo taquipneia, disritmias, hipotensão, edema pulmonar não cardiogênico, choque hipovolêmico, oligúria e insuficiência respiratória.
As convulsões e o nível deprimido de consciência também podem ocorrer. A morte costuma ser causada por hipotensão severa e insuficiência respiratória. Também pode ocorrer hipercalemia devido a complicação da insuficiência renal.
Quais os possíveis efeitos crônicos do glifosato?
Ainda existe divergência na determinação dos efeitos crônicos à saúde humana que o Glifosato pode provocar.
Segundo o EPA, o produto não apresenta potencial carcinogênico para humanos. Em contrapartida, para a IARC o glifosato é classificado como grupo 2A – possivelmente carcinogênico.
A agência japonesa National Institute of Technology and Evaluation – NITE considera o Glifosato como um composto com potencial em provocar efeitos crônicos à saúde humana. Tais como: suspeito de provocar efeitos à reprodução e efeito na glândula salivar.
A classificação GHS do Glifosato de acordo com o NITE é:
- Lesões oculares graves/irritação ocular – Categoria 1
- Toxicidade à reprodução – Categoria 2
- Toxicidade para órgãos-alvo específicos – Exposição única – Categoria 3 (efeitos narcóticos)
- Toxicidade para órgãos-alvo específicos – Exposição crônica – Categoria 2 (glândulas salivares)
- Perigoso ao ambiente aquático – Agudo – Categoria 2
- Perigoso ao ambiente aquático – Crônico – Categoria 2
Leia também: O que é GHS e como está a implementação do sistema na América Latina?
Qual o tratamento para intoxicação por Glifosato?
O primeiro passo ao notar os sintomas de intoxicação por Glifosato é fornecer tratamento de suporte. Isso porque não há antídoto conhecido.
Neste sentido, é possível seguir algumas etapas para eliminar a contaminação, como:
- Descontaminar a pele com água e sabão.
- Tratar a contaminação ocular irrigando os olhos expostos com água em abundância ou soro fisiológico por pelo menos 15 minutos. Remover as lentes de contato, antes da irrigação ocular. Se a irritação persistir, é preciso de assistência médica especializada.
- Se a substância for ingerida, deverá ser realizada a descontaminação gastrointestinal.
- Em caso de convulsões, o controle deve ser realizado com a administração de benzodiazepínicos.
- Nos casos de intoxicação grave que resultem em insuficiência renal aguda, poderá ser necessário fazer hemodiálise para corrigir a acidose e hipercalemia.
Como desenvolver ações de prevenção?
No caso da exposição ao Glifosato e do potencial risco dos praguicidas, é importante criar ações de prevenção. Assim, é possível conscientizar principalmente as pessoas que manuseiam estes compostos.
Ao desenvolver estas estratégias, a sua empresa garante a saúde de colaboradores, preserva o meio ambiente e fortalece a imagem frente ao mercado.
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