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O que é dietilenoglicol? Conheça o produto que ganhou as mídias!

Temos sido informados por meio das redes de comunicação sobre a suposta contaminação das cervejas Backer com o produto Dietilenoglicol. O que levou a um quadro de intoxicação dos consumidores do produto.

Neste artigo, você irá conhecer um pouco mais sobre esse produto em relação aos seus usos e toxicidade. 

Continue conosco e confira!

Que produto é esse?

O Dietilenoglicol, também denominado DEG ou éter de glicol, é um produto químico orgânico. Sua fórmula química é C4H10O3 (dispostos como HO-CH2-CH2-O-CH2-CH2-OH). 

Ele é um líquido incolor ligeiramente viscoso com odor suave e sabor adocicado, completamente miscível em água e com a maioria dos solventes orgânicos.

E vamos a um pouco de química!

O Dietilenoglicol é um de vários dióis (hidrocarbonetos contendo dois grupos álcool). Eles são derivados do óxido de etileno e são descritos com a fórmula geral HO-CH2-CH2(-O-CH2-CH2)n-OH, onde:

n = 0 (Mono) Etilenoglicol, 

n = 1 DEG,

2 – Trietilenoglicol, TEG, ou triglicol,

3 – tetraetilenoglicol

4 – pentaetilenoglicol

Números mais altos para n descrevem um polímero chamado polietilenoglicol.

Leia também: Produtos corrosivos: qual a toxicidade e os perigos à saúde?

Qual o uso do Dietilenoglicol?

Esse produto é utilizado como intermediário químico nas indústrias de resinas poliéster insaturadas e como agente plastificante e lubrificante para muitos produtos naturais e sintéticos. Pode ser utilizado também em formulações de anticoagulante, óleos de usinagem e nas formulações de tintas de impressão.

Uma solução de Dietilenoglicol e água é usada como um anticongelante.  Ambos diminuem o ponto de fusão e aumentam o ponto de ebulição. Assim, a solução permanece mais tempo no estado líquido em temperaturas mais baixas, tornando o processo de refrigeração mais eficiente.

Em cervejarias, uma solução, composta por água e DEG, circula pela parede externa do tanque de fermentação, resfriando o conteúdo interno. Isso é necessário porque a temperatura da cerveja durante a fermentação tem que ser mantida baixa, entre 8 e 10°C. 

Ou seja, como mencionado, a solução de resfriamento circula pela parede externa dos tanques no que chamamos de serpentina e não entra em contato com o produto interno dos tanques.

Leitura recomendada: Como conhecer os riscos químicos: perigos físicos e à saúde humana

As etapas de produção da cerveja

Segue abaixo um resumo do processo do ciclo de produção de cerveja. O objetivo é apenas dar uma ideia geral das etapas que compõem o processo e não se refere a nenhuma questão específica.

1ª Etapa – Moagem:

O malte é moído para possibilitar a rápida extração e conversão dos componentes, obtendo-se uma farinha grosseira. 

2ª Etapa – Brassagem:

A farinha obtida na moagem é misturada com a água e deixada em repouso sob aquecimento entre 75ºC e 80ºC, por um período de duas a quatro horas, com verificação rotineira do pH nesse período.

3ª Etapa – Filtração do mosto:

Essa fase tem como objetivo retirar todos os componentes insolúveis presentes na mistura e tem duração de  aproximadamente três horas. O filtrado é o mosto e o material retido no filtro pode ser utilizado como alimento para o gado.

4ª Etapa – Ebulição do mosto:

Após o processo de filtração, o lúpulo é adicionado ao mosto e, em seguida, a mistura é submetida ao processo de ebulição (aquecimento) por um período de duas horas.

5ª Etapa – Resfriamento:

Após a realização da ebulição, o mosto lupulado sofre um resfriamento até uma temperatura de 8ºC a 9ºC.

6ª Etapa – Fermentação:

Nesta etapa, a levedura é adicionada ao mosto lupulado para a transformação dos açúcares em álcool e dióxido de carbono. O que leva aproximadamente sete dias.

7ª Etapa – Maturação e filtração

A cerveja é novamente filtrada para a retirada de levedura e de outros componentes que possam ainda estar presentes. Em seguida, é novamente aquecida (levemente), para a eliminação de componentes voláteis, mas não o álcool.

8ª Etapa – Estabilização:

Após o novo aquecimento, a cerveja também é submetida a um segundo resfriamento, agora em temperatura em torno de 0ºC a 2ºC, para uma melhor fixação das propriedades da cerveja.

9ª Etapa – Clarificação:

Após a estabilização, a cerveja é filtrada novamente, para a eliminação de qualquer partícula que restou em suspensão. Logo em seguida, é armazenada em tanques.

10ª Etapa – Enchimento:

Nessa última etapa do processo de produção, a cerveja será envasada, por exemplo, em garrafas ou latas.

Saiba mais: Entenda tudo sobre a toxicologia dos hidrocarbonetos

Como funciona a toxicidade do Dietilenoglicol?

Toxicocinética 

O Dietilenoglicol (DEG) é absorvido lentamente pela pele. A biodisponibilidade dérmica do DEG foi estimada em 9%. 

Não estão disponíveis estudos sobre a absorção de DEG após exposição por inalação. Contudo, devido às suas características polares e higroscópicas, é provável que o DEG na forma de vapor ou aerossol seja absorvido logo após entrar nas passagens respiratórias superiores.

Devido à sua alta solubilidade em água e baixo coeficiente de partição, o DEG é rapidamente distribuído pelo sangue através dos tecidos aquosos do corpo, com concentrações mais baixas nos tecidos adiposos na ordem: rins> cérebro> baço> fígado> músculo> gordura (ou seja, a mesma ordem do fluxo sanguíneo).

Os sintomas mais comuns do envenenamento por esse produto são náusea, dor de cabeça, vômito, vertigem e convulsões.

Leia também: Transporte de produtos químicos: como seguir as normas de segurança

Toxicidade aguda 

O DEG é classificado como perigoso com a frase de risco “Nocivo por ingestão” . Embora os dados em testes efetuados com animais não estejam na faixa de classificação, os dados humanos disponíveis apoiam essa classificação.

Acidentes em humanos após exposição aguda ao DEG já foram registrados. Um grande número de envenenamentos em massa em humanos envolvendo a substituição do DEG por glicóis mais caros e não tóxicos em preparações medicinais foi documentado nos últimos 70 anos. 

As características típicas da toxicidade aguda incluem comprometimento neurológico, acidose metabólica e insuficiência renal aguda. A mortalidade e morbidade precoces são altas, com a maioria das mortes ocorrendo nas duas primeiras semanas após a exposição ao DEG. 

Em relação à corrosão / irritação, o DEG mostrou-se levemente irritante para a pele em testes realizados em animais e humanos. Em relação aos olhos, mostrou-se levemente irritante de acordo com testes realizados em animais. 

Quanto à sensibilização, à pele o produto mostrou-se negativo de acordo com testes de maximização efetuados em cobaias.

Com base no peso das evidências dos estudos de genotoxicidade disponíveis in vitro e in vivo, o produto químico não é considerado genotóxico. 

No geral, embora algumas informações de carcinogenicidade humana estejam disponíveis, os dados são insuficientes. Por exemplo, falta uma estimativa quantitativa da exposição ao DEG e uma metodologia sólida para avaliar o potencial carcinogênico do DEG. A Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC) não avaliou o DEG como cancerígeno.

Envenenamento por Dietilenoglicol

Existem alguns relatos de envenenamentos ocorridos devido à ingestão de Dietilenoglicol em todo o mundo, como por exemplo:

  • Bangladesh (2009): Foram encontrados vestígios do produto químico tóxico em um xarope de paracetamol que teria matado 24 crianças de 11 meses a 3 anos, por complicações renais.
  • Nigéria (2008): Morreram pelo menos 84 crianças entre dois meses e sete anos. As investigações revelaram que todos haviam tomado um medicamento chamado “My Pikin Baby”.
  • Nigéria (2009): Sete crianças foram internadas no hospital universitário Jos University, com anúria, febre e vômito. As crianças mais tarde desenvolveram insuficiência renal e morreram. Todas as crianças receberam xarope de paracetamol para tratamento de sintomas relacionados à malária. A substância também já provocou mortes na Argentina, Espanha e Índia.
  • O Incidente de Massengill (Estados Unidos): Em 1937, a SE Massengill Co. (uma empresa farmacêutica do Tennessee) fabricou sulfanilamida dissolvida com dietilenoglicol para criar uma alternativa líquida desse medicamento. A empresa testou o novo produto, Elixir Sulfanilamida, quanto à viscosidade, aparência e fragrância. Na época, as leis de alimentos e drogas não exigiam análises toxicológicas antes de serem lançadas para venda. Quando 105 pessoas morreram em 15 estados durante os meses de setembro e outubro, as suspeitas levaram ao Elixir e o potencial tóxico deste produto químico foi revelado. Este episódio foi o ímpeto da Lei Federal de Alimentos, Medicamentos e Cosméticos de 1938. Esta lei, embora amplamente alterada nos anos subsequentes, continua sendo a base central da autoridade reguladora do FDA até os dias atuais.

Saiba mais: Agentes neurotóxicos: toxicologia e tratamentos 

Perigos físicos e ao meio ambiente do Dietilenoglicol

Em relação a perigos físicos, o Dietilenoglicol não possui nenhuma classificação.

Quanto aos perigos em relação ao meio ambiente, esse produto é prontamente biodegradável e não apresenta potencial de bioacumulação em organismos aquáticos. Também não apresenta toxicidade para os organismos aquáticos.

Conheça a Chemical Risk

Para evitar acidentes e tragédias com o Dietilenoglicol como essas citadas acima, a sua empresa precisa realizar a gestão do risco químico presente em seus produtos. Além disso, deve analisar o risco no manuseio, transporte, armazenamento de produtos, entre outros.

Contar com uma consultoria em segurança e gestão química é essencial para atender a estas exigências. A Chemical Risk possui profissionais capacitados, experiência e conhecimento para auxiliar a sua organização, minimizar riscos e garantir o cumprimento da sua empresa com a legislação.

Confira os nossos principais serviços:

Também contamos com treinamentos in company sobre manuseio, gestão do risco, atendimento a emergências e muito mais. E temos cursos online, inclusive de manuseio de produtos químicos.

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4 comentários

    1. Olá Fernando,que bom que gostou do texto!
      O produto químico apresentou baixa toxicidade aguda em testes em animais após exposição oral. A dose letal média (DL50) foi de 15600 mg / kg pc em ratos. A exposição aguda ao DEG em 15600 causou efeitos no sistema nervoso, nos rins e, em menor grau, no fígado. Os efeitos macroscópicos e histopatológicos incluíram degeneração hidrópica dos túbulos renais e áreas centro lobulares do fígado, com edema e hemorragias.

  1. Ola boa noite;precisei de esclarecimento a respeito do Dietilenoglicol e esse artigo me ajudou muito .

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