Presente em diversos produtos em nossas casas, o mercúrio é uma substância que precisa ser manuseada com cuidado pelos trabalhadores na fabricação dos produtos. Por isso, vamos abordar como funciona a toxicologia do mercúrio e os riscos na manipulação do elemento.
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Índice
ToggleHistórico do mercúrio
Descoberto ainda na Grécia antiga, o mercúrio foi um dos primeiros elementos estudados e tem sido de interesse para os estudantes de química desde os dias da alquimia até a atualidade.
Na antiguidade, o mercúrio era sinônimo de magia e, então, usado pelos alquimistas. Depois, passou a ser aplicado em escrituras e desenhos rupestres.
Já no século XVI, ajudou a tratar a sífilis e, no século XIX, era utilizado para fabricação de chapéus de feltro.
Durante séculos, o mercúrio também foi empregado como um ingrediente importante para formulação de medicamentos, como por exemplo: diuréticos, antibacterianos, antisépticos, pomadas dermatológicas e laxantes.
Formas de identificação
- Nome químico: Mercúrio – é uma homenagem ao deus grego Mercúrio (o mensageiro dos deuses). O símbolo Hg é derivado da palavra “hydrargyrum” (grega/latinizada) que significa prata líquida.
- Forma molecular: Hg
- Massa atômica: 200,59
- Número CAS: 7439-97-6
Aspecto e forma do mercúrio
O mercúrio é um metal prateado, inodoro e líquido à temperatura ambiente. Está entre os seis elementos da tabela periódica, que se apresentam em estados líquidos à temperatura ambiente ou a temperaturas próximas.
Por não ser um bom condutor de calor, quando comparado com os demais metais, é utilizado como um bom condutor de eletricidade.
O mercúrio forma uma liga metálica se ligando facilmente com outros metais, como por exemplo, prata ou o ouro, o que produz as conhecidas amálgamas.
Está presente em diversas formas (Hg metálico, orgânico, inorgânico) e pode encontrar-se em três estados de oxidação (0, +1, +2), facilmente interconversíveis na natureza.
O mercúrio metálico ou elementar, no estado de oxidação zero (Hg0) presente na forma líquida em temperatura ambiente, é muito volátil, e libera o gás monoatômico, chamado de vapor de mercúrio e classificado como perigoso.
O vapor de mercúrio é estável e pode permanecer na atmosfera durante meses ou até anos, o que se torna importante para seu ciclo, pois pode sofrer oxidação e formar os outros estados: o mercuroso, Hg+1, quando o átomo de mercúrio perde um elétron, e o mercúrico, Hg+2, quando este perde dois elétrons.
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Sais de mercúrio
Os sais formados por mercúrio mais importantes são:
- Fulminato de mercúrio (Hg(CNO)2): empregado como um detonador, é corrosivo e altamente tóxico.
- Cloreto de mercúrio (I) ou calomelano (Hg2Cl2): composto branco, pouco solúvel em água. Empregado como um purgante, anti-helmíntico e diurético;
- Cloreto de mercúrio (II), ou sublimado corrosivo: empregado como desinfetante. Foi o primeiro medicamento que apresentou eficácia no tratamento da sífilis.
- Sulfeto de mercúrio ou cinábrio (HgS): mineral de cor vermelho púrpura, translúcido, utilizado em instrumental científico, aparatos elétricos, ortodontia etc.
- Timerosal (COO-Na+(C6H4)(S-Hg-C2H6)): empregado como agente bacteriostático análogo ao merthiolate.
- Metilmercúrio: forma orgânica do mercúrio é bioacumulativo. Na década de 50, provocou acidente no Japão, que ficou conhecido como Doença de Minamata. Neste caso, peixes foram contaminados por mercúrio, proveniente de uma instalação industrial, e as pessoas da região, que consumiam esses peixes, foram intoxicadas aguda e cronicamente pelo mercúrio.
- Mercúrio vermelho: suspeita-se que seja empregado na fabricação das chamadas bombas sujas.
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Principais aplicações do mercúrio
As principais aplicações do mercúrio no nosso dia a dia são:
- Instrumentos de medidas (termômetros e barômetros);
- Lâmpadas fluorescentes;
- Catalisador em reações químicas;
- Medicamentos;
- Fabricação de espelhos;
- Detonadores e explosivos;
- Corantes;
- Pilhas;
- Odontologia (em desuso);
- Fabricação de instrumentos de laboratório (termômetros, eletrodos, instrumentos de medir pressão do sangue, outros).
Toxicologia do mercúrio: toxicocinética no nosso organismo
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Vias de absorção
A ingestão do mercúrio elementar não apresenta potencial em provocar toxicidade, pois a absorção no trato gastrointestinal é bem limitada. Isso se deve ao mercúrio nessa conformação não reagir com as moléculas biologicamente importantes.
A inalação do vapor de mercúrio é totalmente absorvida pelos pulmões. O vapor atravessa muito facilmente as membranas celulares e atinge o Sistema Nervoso Central.
Os sais solúveis inorgânicos de mercúrio (Hg2+) têm acesso à circulação quando são ingeridos por via oral, o equivalente a cerca de 10% a 15% da dose ingerida.
Os compostos de mercúrio orgânicos, como o metilmercúrio, são absorvidos mais completamente pelo trato gastrointestinal, pois são lipossolúveis e menos corrosivos para a mucosa intestinal. Mais de 90% dos compostos orgânicos de mercúrio são absorvidos pelos seres humanos.
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Distribuição do mercúrio pelo organismo
O mercúrio elementar sofre oxidação no sangue e tecidos, formando o Hg2+, que se acumula no fígado e nos rins, pois o mercúrio se liga aos grupos sulfidrílicos.
Os compostos orgânicos de mercúrio atravessam facilmente a barreira hematoencefálica e a placenta, causando mais efeitos neurológicos e teratogênicos dos que os compostos inorgânicos. Os compostos orgânicos são distribuídos de forma mais homogênea nos diversos tecidos do que os inorgânicos.
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Eliminação do mercúrio do nosso organismo
Os compostos inorgânicos do mercúrio são eliminados na urina e nas fezes, e tem uma meia-vida de cerca de 60 dias. Outras formas de eliminação do mercúrio são: unhas e cabelos, suor e saliva.
O metilmercúrio é eliminado principalmente pelas fezes na forma conjugada com a glutationa; e menos de 10% da dose é eliminada pela urina. A meia-vida do metilmercúrio no sangue varia entre 10 a 105 dias.
Toxicidade do mercúrio
Após conhecer a forma de atuação do elemento em nosso organismo, vamos ver os efeitos da toxicologia do mercúrio.
Aguda
- Mercúrio elementar:
Os sintomas podem aparecer várias horas após a exposição e são: fraqueza, calafrios, gosto metálico, náuseas e vômitos, diarreia, dispneia, tosse, sensação de opressão torácica. A toxicidade pulmonar pode evoluir para pneumonite intersticial com disfunção respiratória grave.
- Para Hg++ e Hg2++:
Rins: falência renal (albuminúria, cilindrúria e hematúria);
Gastrintestinal: sabor metálico, inflamação na língua, mucosas, lesões (ingestão);
Sistema Nervoso: mal-estar, visão obscurecida e parestesias (morte após 1 a 5 dias da ingestão).
- Metilmercúrio:
Predominam efeitos neurotóxicos: constrição do campo visual, surdez, ataxia, tremores, coma e morte.
- Fumos de Hg0:
Pulmonares: bronquite e pneumonite;
Neurológicos: tremores, hiper excitabilidade;
Renais: lesões acontecem ocasionalmente, se o metal chegar até os rins.
Crônica
- Neurotoxicidade (todos os compostos)
- Psicose Tóxica: alterações comportamentais e da personalidade; Parkinsonismo mercurial
- Alterações cardiovasculares: insuficiência coronária, hipertrofia ventricular, hipertensão.
- Alterações renais (síndrome nefrótica, proteinúria).
- Danos cromossômicos (metilmercúrio).
- Tríade hiperexcitabilidade, tremores, gengivite são característicos de intoxicação crônica pelo Hg0.
A exposição crônica aos vapores de mercúrio provoca graves efeitos neurológicos. O quadro clínico resultante é conhecido como síndrome vegetativa astênica e consiste em sintomas neurastênicos, além de três ou mais das seguintes anormalidades: bócio, aumento da captação de iodo radioativo pela tireoide, taquicardia, instabilidade do pulso, gengivite, dermatografismo e aumento do nível de mercúrio na urina.
Em caso de continuação da exposição ao vapor de mercúrio, os tremores tornam-se perceptíveis, assim como as alterações psicológicas, como depressão, irritabilidade, timidez excessiva, insônia, labilidade emocional, perda da memória, confusão, impaciência e distúrbios vasomotores.
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Controle ocupacional e biológico do mercúrio
Para evitar os efeitos da exposição à substância, é importante efetuar o controle ocupacional em relação à toxicologia do mercúrio. Veja os índices limites:
- Monitorização ambiental:
TLV-TWA (ACGIH):
Mercúrio e compostos alquil, Hg TWA: 0,01 mg/m³ / STEL:0,03 mg/m³
Mercúrio, todas as formas – exceto alquil, Hg
Aril compostos TWA: 0,1 mg/m³
Elementar e formas inorgânicas TWA:0,025 mg/m³.
LT – Mercúrio (todas as formas exceto orgânicas): 0,04 mg/m³.
- Monitorização biológica:
ACGIH – BEI:
Mercúrio elementar na urina: 20 μg/g creatinina.
Mercúrio em urina: IBMP = 35 μg/ g creatinina.
Tratamento para a toxicologia do mercúrio
- Exposição ao vapor de mercúrio: interrupção imediata da exposição e monitorização rigorosa da função pulmonar. Às vezes, pode ser necessário suporte respiratório, além da administração de um quelante, como dimercaprol e penicilamina.
- Mercúrio inorgânico: pela exposição oral, deve-se ter cuidado ao equilíbrio hidroeletrolítico e ao estado hematológico. Pode ser administrado carvão ativado.
- Administração dos agentes quelantes: dimercaprol é indicado para exposição grave e paciente sintomático. Já a penicilamina é indicada para exposição leve ou paciente assintomático, sendo recomendada para tratar as intoxicações por mercúrio elementar ou inorgânico.
- Para o metilmercúrio, a remoção do organismo é mais complicada e delicada, podendo ser administrada a resina de politiol, que parece ser mais eficaz.
Como melhorar o manuseio do mercúrio na sua empresa?
Como vimos, o mercúrio está presente em muitas empresas e indústrias e é preciso tomar medidas e cuidados para proteger os funcionários dos riscos na produção, transporte ou armazenamento.
Para isso, uma consultoria especializada em segurança química pode ajudar e muito a sua organização.
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